Introdução
Este
artigo reúne observações sobre um conto de Mário de Andrade baseadas no
conceito de interlíngua. Na verdade, nasceu como um exercício que
proporia em aula para despertar uma reflexão sobre a língua. Os debates
atuais são muitos, as vertentes de estudos da língua e da linguagem se
desenvolveram ao longo do século XX, se multiplicaram, se multifacetaram,
se interpenetraram e, enfim, há um universo riquíssimo de especulações
e pesquisas. Era como um convite à aproximação desse universo que eu preparava
esta leitura.
Evidentemente,
embora delineadas por regularidades semânticas, ligadas aos temas de que
tratam e ao modo como os tratam, as práticas discursivas não são monolíticas
e uniformes; sua heterogeneidade é constitutiva: as práticas discursivas
delimitam-se no encontro, no confronto com outras práticas discursivas,
e é dessa dinâmica que relevam os discursos. No interdiscurso, dizeres
contemporâneos, que se compõem irredutivelmente também de suas historicidades,
tocam-se, contagiam-se, repelem-se, distorcem-se, interpenetram-se. Na
interlocução discursiva, no convívio e no conflito entre discursos, deslocam-se
(ou pelo menos movimentam-se) as balizas semânticas dos dizeres.
Um
dos atuais
desdobramentos teóricos
das questões
relativas à produção
dos sentidos
na AD é a proposta
de uma semântica
global
(de Dominique Maingueneau, em
Gênese
dos Discursos,
1984), que
procura
refletir
sobre
os efeitos
de sentido
em
diversas instâncias
de sua
constituição,
considerando as condições
de produção
dos discursos
e também
uma certa
circunstância
mais
imediata,
uma cenografia(1)
em
que
se dão as enunciações
e, assim,
as
manifestações
dos discursos.
Essa
instanciação analítica é uma possibilidade de discriminar elementos entretecidos,
constituintes de uma totalidade construída interdiscursivamente. Neste
trabalho, apresento um percurso que se desenha com base em uma dessas
instâncias, a interlíngua. Percorro um conto de Mário de Andrade
("Atrás da Catedral de Ruão") em que podemos observar que a
tessitura de certos códigos linguageiros produz certos sentidos e é, dessa
maneira, constitutiva desse dizer. Noutros termos: é essa tessitura, e
nenhuma outra, a que constitui esse dizer, seus sentidos.
Considerações
sobre interlíngua
Desde
Genèses du discours (1984), Maingueneau vem formulando uma noção
de interlíngua que, ultrapassando as noções correntes de intertextualidade
e de interdiscurso, articula os códigos linguageiros à semântica
global das enunciações. Em artigo recente, o autor propõe um paradoxo
constitutivo: "é por seu próprio enunciado que um fiador deve
legitimar sua maneira de dizer" (2002:s/p).
Nesse
trabalho, Maingueneau discute intertextualidade nos seguintes termos:
vivendo hoje seu auge como objeto de estudo, a formulação do conceito
parece coincidir com a "morte do autor" e, desde os anos 1960,
difundiu-se em interpretações diversas, sendo que a muitas delas não interessa
o que para a análise do discurso de linha francesa é crucial: a convivência
(ou co-ocorrência) de textualizações (de discursos) que se regulam umas
às outras, constitutivamente.
Esse
primado
do interdiscurso implica uma intensa
dinâmica
de tessitura
dos discursos,
sempre
em
relação
uns com
os outros,
sempre
balizados por
cenografias.
Nesse contexto,
a noção
de interlíngua propõe considerar
que
não
há um
uso
(ou
usos)
d´"a" língua.
A norma
culta
ou
a norma
padrão,
aquilo
que
se considera default
ou
o que
se define como
idioma
oficial
não
é algo
à disposição
de usuários
que,
tomando essa referência,
podem desdobrá-la conforme
suas
necessidades,
habilidades
ou
genialidades;
a língua
não
é exterior
e posterior
à formulação
de um
algo
a dizer:
ela
é constitutiva da formulação
dos dizeres.
Segundo
Maingueneau, "em todo posicionamento, ao lado de investimentos em
tais ou tais gêneros do interdiscurso, há também o investimento da interlíngua,
por meio do qual uma obra se inscreve no espaço das práticas linguageiras
e dos idiomas. Trata-se de um duplo investimento: entrada num espaço que
se pretende ocupar e atribuição de valor" (2002:s/p). Assim é que
podemos entender que a interlíngua supõe as línguas dos textos,
melhor seria dizer das textualizações, que põem em relevo certos
sentidos, certas possibilidades de leitura (de co-enunciação) e uma corporeidade
que advém delas ao mesmo tempo que as forja.
Os
textos literários, entre outros, parecem ter uma textura propícia à verificação
desse investimento da interlíngua; em seu trabalho, um escritor "não
é confrontado com a língua, mas com uma interação de línguas e de usos"
(1995: 104), seu dizer é tecido sempre numa dada conjuntura em que se
entrecruzam as relações "entre as variedades de uma mesma língua,
mas também entre essa língua e as outras, passadas e contemporâneas"
(1995:104). Desse modo, ele trabalha uma língua numa língua, "escava
um hiato irredutível com relação à língua materna" (1995:105), trafegando
entre as perilínguas, fronteiras delineáveis apenas como funções.
Uma delas, a infralíngua (ou hipolíngua) – uma pretendida "origem",
difusa, uma espécie de instância primeva, personalizante; a outra, a supralíngua
(ou hiperlíngua) – numa direção inversa, uma utópica representação
ideal do pensamento, suposta estabilidade racional e transparente dos
sentidos em uma língua, institucionalizante (2002:s/p).
Assim,
escavar um hiato, que é o próprio enunciar, não é buscar adequação
formal para um enunciável prévio; o enunciar participa da semântica global
do enunciado, constitui seu modo de coesão, que, constituído talvez
até por elementos indiscrimináveis, trama-se não por haver uma costura
de elementos lingüísticos específicos, com função predeterminada, mas
pela força de uma energeia (2005a:102),uma totalidade da qual relevam os sentidos, sempre negociados,
de algum modo, entre interlocutores – co-enunciadores: sujeitos históricos,
heterogêneos, constitutivamente dialógicos, que textualizam certos discursos
em certos códigos linguageiros.
Código
linguageiro
no conto
Atrás
da
Catedral
de Ruão(2)
Antes
de mais nada, com base no corpo teórico desenvolvido por Maingueneau,
é possível propor que o texto literário se caracteriza por ser textualização
de um discurso constituinte – o discurso literário.
Assim
como
o discurso
filosófico ou
o religioso,
por
exemplo,
enuncia-se como
se nada
houvesse para
além
de si
mesmo.
Ainda
que
o discurso
literário
recorra à sociologia,
à psicologia,
à filosofia...,
configura-se como
uma instância-limite, pois
cria
um
mundo
cujas fronteiras
ele
mesmo
estabelece em
seu
curso,
de modo
que
seja impossível
dizer
de onde
ele
vem. Ele
não
vem: instaura-se como
dizer
último
e primeiro.
"Os discursos
constituintes
têm efetivamente
um
estatuto
singular:
são
zonas
de palavras
entre
outras e palavras
que
se pretendem marquise
de todas as outras. Sendo discursos-limites, localizados num limite
e tratando do limite,
devem gerar
textualmente
os paradoxos
que
seu
estatuto
implica. Com
eles,
colocam-se, em
toda
sua
acuidade,
as questões
relativas ao carisma,
à Encarnação,
à delegação
ao Absoluto:
para
autorizarem-se por
si
mesmos,
devem apresentar-se como
ligados a uma Fonte
legitimadora." (1999:46).
Mas,
posto que algo sempre fala antes e alhures, e que a interatividade basilar
dos discursos é irrevogável (2002:s/p), os discursos constituintes não
são propriamente fundantes, mas são discursos que se apresentam como fundantes.
Pois
bem, "Atrás da Catedral de Ruão" é um texto literário, é textualização
de um discurso literário. Sobre essa condição, pensando em termos de discursividade,
podemos dizer que institui um modo de dizer que requer uma interlíngua
específica (um código linguageiro específico), mas não firma,
com isso, um padrão; antes, provoca essa idéia de padrão, instaurando
um mundo que se dá a ver ao construir, nesse mesmo mundo, a necessidade
de se dar a ver do modo como se dá a ver (2002:s/p). Mais: no que
diz respeito à língua, ele "não tem relação natural com qualquer
uso lingüístico; mesmo quando a obra parece empregar a língua mais 'comum',
existe confronto com a alteridade da linguagem, vinculada a um posicionamento
determinado no campo literário" (1995:111).
Assim
é que no conto "Atrás da Catedral de Ruão" encontramos uma experiência
de práticas linguageiras ligadas ao modernismo paulistano do início do
século XX, certas marcas de um fazer antropofágico cujo fim último é uma
(re)invenção do nacional calcada numa apropriação dos símbolos/mitos/ritos
locais por práticas discursivas investidas de brasilidade moderna
e, portanto, inelutavelmente, em busca do que seja essa brasilidade.
Freqüentemente
encontramos observações sobre tais condicionantes mesmo em sinopses mais
sucintas desse conto, nas quais, aliás, costuma-se registrar que se trata
de um texto "bilíngüe" (português/francês). Isso é especialmente
interessante, se levamos em conta que a língua francesa há muito saiu
da escola brasileira regular e não foi habitar os tantos cursos livres
que ensinam, sobretudo nos últimos 20 anos, inglês e, mais recentemente,
espanhol. Por isso, em geral esse registro do "bilingüismo"
do conto é uma advertência. Eventualmente, essa advertência é acompanhada
de notas de tradução frase a frase que, todavia, não dão conta de delimitar
os sentidos, por exemplo, do termo "afrosa", que aparece já
no primeiro parágrafo do conto.
Mademoiselle,
personagem central, com sua "blusa alvíssima de rendinhas crespas"
e o pó-de-arroz que "não disfarçava mais o desgaste", dá aulas
de francês às filhas (de 15 e 16 anos) de D. Lúcia, esposa de um longínquo
personagem, um marido muitíssimo ocupado em viajar pelo mundo a trabalho.
Muito viajadas também, as meninas, nesta altura, superam Mademoiselle
(há 30 anos no Brasil) em muitas línguas estrangeiras e até mesmo no francês,
mas D. Lúcia tem certa "caridade viciosa" e toma a "solteirona"
como uma "espécie de dama-de-companhia das filhas".
O
caso
foi que
uma das moças replicara a revelação
feita
por
Mademoiselle
assim:
"ça vous fait mal!",
entre
solidária
e provocativa; e a professora corrigiu prontamente
a pronúncia
– "mâle", ma chère enfant, mâle!" De repente,
se deu conta
de que
não
era
de "macho"
ou
"másculo"
que
falava a moça,
mas
de mal,
a aluna
falava "du Bien et du Mal",
como
registra,
então,
Mademoiselle
desconcertada.
Desde
aí podemos seguir um certo percurso da sensação "afrosa"
que Mademoiselle "recebe" – o ataque fricativo, formulado
possivelmente com base no termo francês affreuse (espantosa, horrenda,
indigna), ecoa ao longo do texto em termos como frôler (roçar,
encostar, tocar de leve), por exemplo na revelação enunciada por Mademoiselle:
"Il y a des jours ou je sens à tout moment qu´un 'personnage' me
frôle!", ou numa flexão em português do verbo francês, na voz do
narrador: "Ela sentia masculinos 'ces personnages' que a frolavam
no escuro do quarto..."
Mademoiselle
está vivendo uma espécie de surto duradouro, cujos delírios se expressam
em associações tecidas ao longo do conto no jogo entre um certo francês
em cena, um certo português em cena e um certo dizer franco-brasileiro
em cena.
O
narrador, terceira pessoa onisciente, desenha-se num distanciamento do
francês que caracteriza as personagens. Usa aspas para retomar alguns
usos delas ou para fazer crer que se trata da retomada de um uso delas
–"Era melhor fingir desinteresse por aqueles dois 'personnages gluants',
se dando a mão com tanta imoralidade". Mas vai, no desenrolar da
trama, assumindo (sem aspas) cada vez mais alguns desses termos aportuguesando-os
– "...se lhe pusessem as mãos gluantes nos ombros, ela havia de berrar".
Usa
termos aportuguesados sempre transmutados num dizer peculiar a esse texto
– "Pois elas não tinham visto o que se passara atrás da catedral
de Ruão! Deu um daqueles muxoxos, meio nojo, meio desnorteamento, que
lhe mereciam todas as cochonerias dessa vida". Cochonerias, de cochonneries
(porcaria, imundície), não é um aportuguesamento dicionarizado ou incorporado
nas práticas ordinárias do português brasileiro. É um aportuguesamento
que faz sentido nessa cenografia.
Sobretudo
nos momentos de transe das personagens, marcados pela confusão intensificada
entre os idiomas (num plurilingüismo externo), dá-se uma mescla de línguas
cujo efeito é uma certa profanação recíproca, da qual resulta uma ambiência
de lascívia – "Mademoiselle tirou a mão dos olhos, muito envergonhada,
refeita de súbito com a pergunta [do guarda]: 'Non, merci', mas se percebendo
noutra 'lisière', consertou: Não, obrigada. E agora, já sem sustos mais,
num desalento vazio, termina de contornar o 'derrière' da catedral. Já
não era mais ela que 'bousculava' os outros, como diriam as meninas, a
multidão é que a busculava..."; e também há mesclas dentro de cada
idioma (num plurilingüismo interno); neste caso, inclusive, conforme uma
certa filiação estética – desdobramento do chamado modernismo de 1922,
certos registros ortográficos, certos usos pronominais, inspiração em
prosódias populares, preferências lexicais, entre outras propostas do
período.
As
construções integralmente em francês aparecem apenas no discurso direto,
nas falas das personagens, que, ao falarem em francês, autorizam-se
como as personagens que são – a professora, cujo francês, língua de sedução
e prestígio, é o único bem que possui, e as alunas, burguesas que podem
pagar por esse francês (e por outros) e usar com deleite. Aí está desenhada
a cenografia.
Nesse
jogo, os dizeres das alunas Alba e Lúcia orientam-se na direção da infralíngua:
"As meninas inventavam-se palavras pra se conversar. Eram como onomatopéias
pressentidas, sem nenhum sentido nítido, próprias daquele mundo vago em
que viviam." Os dizeres de Mademoiselle, "ciosa de sua pronúncia",
mesmo nos momentos extremos de sua tragédia emocional, seguem (ou parecem
tentar seguir) na direção da supralíngua.
Ela
reformula ditos
como
quem,
afinal,
procura
esclarecer
o que
diz – "É que
estava no hol de seu
hotelzinho quando
entrou um
homem
de cartola,
cavanhaque,
fraque,
óculos
escuros,
o cavanhaque
era
'pointu, pointu! Je
me
suis dit: Ce personnage vient tuer quelqu´un. Il
monta
au salon, pas une minute ne s´était passée, nous entendimes les cinq coups
du pistolet. Dans
le ventre!'
E se auxiliou desvairada
do gesto
homicida:
'Poum! poum! poum! poum!...' Olhou Dona
Lúcia, olhou as meninas, assustada, indecisa.
E numa das reconsiderações leais,
de quando
se enganava de 'lisière', 'J´ai manqué un poum: ça fait cinq!'".
Ou
ela
é referida como
um
ser
em
descontrole,
num jogo
de termos
racionalizante: "E Mademoiselle
estava... Só
um
verbo
irracional
dirá no que
Mademoiselle
estava: Mademoiselle
estava no cio."
As
passagens em discurso indireto livre são especialmente marcadas pelo tom
desse franco-brasileiro lúbrico que está em cena: "Mademoiselle
soltava "des petits cris" excitadíssima, pedindo mais detalhes,
mais detalhes, 'ces norvégiens!', e esses catalões, e os árabes, e 'les
tuaregs'!..." É como se a turbulência das jovens convidasse a virgem-quarentona
a afastar-se da rigidez da institucionalidade, mergulhando nas fissuras
e distorções da interlíngua, aproximando-se do que seria a singularidade.
E é toda essa a vertigem: "Agora as meninas tinham chegado, era o
vendaval, tão estalantes de experiências próximas, que puseram tuaregues
no corpo de Mademoiselle". Veja-se que tuaregues funciona
como uma espécie de hiperônimo que inclui les tuaregs (o
povo berbere, nômade, que se desloca entre o centro e o oeste do deserto
de Saara). E, afinal, a própria "Catedral de Ruão" funciona
como um hiperônimo de todas as catedrais, capelas e paróquias, atrás das
quais tradicionalmente se dão (ou se dava até há bem pouco) os encontros
mais reservados ou secretos; funcionada até mesmo como hiperônimo de todos
os lugares onde a luxúria pode acontecer. Talvez se pudesse arriscar até
que Ruão (em vez de Rouen, o nome da catedral
parisiense) sugere bem mais o iminente ataque sexual perpetuamente imaginado
por Mademoiselle, rude como toda a mundanidade das coisas que a excitam.
Creio
que um levantamento de semas, a observação dos recursos de referenciação
ou associações fonético-fonológicas, por exemplo, podem ser reveladores
de instâncias mais minuciosas do código linguageiro em que a "Catedral
de Ruão" significa, mais que quaisquer fundos de quaisquer catedrais,
o lugar da impudicícia desejada por Mademoiselle, a iminência de um encontro
anônimo na multidão em clandestino gozo: " ... e reticenciava mais
claro que tudo: – Et alors... c´était comme derrière la cathédrale de
Rouen. A catedral contava tudo. E era deliciosamente punidor o tudo que
contava a catedral."
Aqui,
porém, faço apenas uma primeira aproximação do conto, com vistas a refletir
sobre seu código linguageiro e, com isso, sobre o conceito de interlíngua
proposto por Maingueneau. Então, por ora, se aceitamos que o código linguageiro
é condicionado pela interação dos registros e variantes das línguas acessíveis
em uma dada conjuntura, a interlíngua, e que ela "é, portanto, o
espaço máximo a partir do qual se instauram os códigos linguageiros"
(Charaudeau & Maingueneau: 2004,97), entendemos que o frisson de Mademoiselle
se agita no código linguageiro em que é enunciado. Essa
maneira de enunciar, e nenhuma outra, é a necessária ao mundo que constrói.
Notas
Bibliografia
ANDRADE,
Mário de, "Atrás
da Catedral
de Ruão", in Contos
novos.
11 ed. Edição
revista
por
Maria Célia Paulillo. Belo
Horizonte:
Itatiaia, 1983, pp. 47-60.
CHARAUDEAU,
P. e MAINGUENEAU, D. Dicionário
de análise
do Discurso.
Trad. Fabiana Komesu (coord.). São
Paulo: Contexto,
2004.
MAINGUENEAU,
Dominique. (1984) Gênese
dos discursos.
Trad. Sírio
Possenti. Curitiba: Criar,
2005.
__________.(1999)
"Ethos, cenografia
e incorporação",
in AMOSSY, R. (org.). Imagens
de si
no discurso
Trad. Ferreira,
Komesu e Possenti.
São
Paulo:
Contexto,
2005b, pp. 69-92.
__________."Discours, intertextualité, interlangue", in
Champs
du signe
n. 13/14, 2002, pp.197-210. (aqui,
consultamos uma versão
mimeo sem
paginação).
__________."L'analyse
des discours constituants", in
Fundamentos
e dimensões
da análise
do discurso,
MARI, H.et al.(eds). Belo
Horizonte,
1999, pp.45-59.
__________.(1993)
O contexto
da obra
literária
–
enunciação,
escritor,
sociedade.
Marina
Appenzeller. São
Paulo: Martins Fontes,
1995.
Resumo
Um
dos desdobramentos atuais
das questões
relativas à produção
dos sentidos
é a proposta
de uma semântica
global
(de Dominique Maingueneau), que
permite refletir
sobre
os sentidos
em
diversas instâncias
de sua
constituição.
Essa instanciação analítica
é uma possibilidade de discriminar
elementos
entretecidos,
constituintes
de uma totalidade
construída interdiscursivamente – portanto
dinâmica,
interlocutiva, heterogênea,
histórica.
Neste artigo,
proponho uma reflexão
sobre
uma dessas instâncias,
a interlíngua, que
parece bastante
operacional
nas análises
que
focalizam a língua
(ou
as condições
de produção
das práticas
linguageiras). Essa reflexão
se desdobra em
observações
sobre
um
conto
de Mário de Andrade, em
que
a tessitura
de certos
códigos
linguageiros produz certos
efeitos
de sentido
e é, assim,
constitutiva desse dizer.
Noutros termos:
é essa tessitura,
e nenhuma outra,
a que
constitui esse
dizer,
seus
sentidos.
Palavras-chave:
interlíngua,
produção
dos sentidos,
semântica
global.
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