Antonio Machado e a Geração de 98
Marco Catalão (*)

A Espanha do final do século XIX, quando Antonio Machado (1875-1939) começou a escrever, estava marcada por um grande atraso econômico e social. Dois terços da população economicamente ativa dedicavam-se à agricultura, em que a ausência de técnicas de trabalho modernas ocasionava uma baixa produtividade. Nas indústrias mais importantes, a defasagem técnica em relação ao restante da Europa era patente. Nas universidades, desconhecia-se praticamente o ensino de técnicas científicas modernas, o que originava a má preparação dos cientistas e dos profissionais. A porcentagem de analfabetismo chegava a quase 80% da população, enquanto 60% dos jovens não estavam escolarizados, e o orçamento militar era dez vezes superior ao da educação(1).

Com a derrota nas guerras coloniais contra os Estados Unidos e a perda da posse de Cuba, Porto Rico e Filipinas em 1898, as ilusões de grandeza nacional cultivadas desde a restauração da monarquia, em 1873, revelaram-se falaciosas. Surgiu então uma série de estudos sobre o “problema da Espanha”, que propunham soluções em linguagem pragmática e cientificista, quase todas de caráter econômico e educacional. No entanto, dada a importância para a intelectualidade espanhola da relação entre história, identidade do povo e política, freqüentemente esses tratados propunham idéias para a “regeneração nacional” baseadas numa interpretação da história nacional em que se condenava a política econômica dos Habsburgo e se exaltava uma Idade Média mítica e “castiça(2).

Paralelamente ao movimento regeneracionista, aos poucos cristaliza-se um grupo de intelectuais que, céticos em relação aos resultados do liberalismo do século XIX e à eficácia das instituições políticas, buscam soluções para o “problema da Espanha” não em ações concretas, mas em zonas do pensamento e atividades alheias à política. Ángel Ganivet (1865-1898), em sua tese España filosófica contemporánea, de 1889 (cujas idéias serão ampliadas no Idearium español, de 1896), não relaciona a crise nacional a um problema político, econômico ou social, mas remete-a a um problema essencialmente espiritual. “Por essa razão, [Ganivet] ignora deliberadamente medidas como a reforma agrária, a industrialização, ou a redistribuição do poder político, que poderiam ajudar a enfrentar os problemas de um modo concreto e prático. Em lugar disso, localiza as raízes do problema na mentalidade nacional(3).

Miguel de Unamuno (1864-1936), a partir do ensaio intitulado En torno al casticismo, de 1895, afasta-se do marxismo e passa a considerar a compreensão do “caráter nacional espanhol como essencial para a regeneração econômica e social do país. Para ele, essa compreensão deveria fundamentar-se não na história oficial dos “grandes acontecimentos”, dos livros e monumentos, mas no que ele denominou a intra-história, a história potencial nunca cumprida do povo espanhol, revelada através da paisagem física, de algumas obras de arte e da vida cotidiana das classes mais baixas, supostamente alheias às transformações temporais.

Quando, em dezembro de 1901, três jovens escritores, Azorín (José Martínez Ruiz, 1873-1967), Pío Baroja (1872-1956) e Ramiro de Maeztu (1874-1936), publicam seu manifesto sobre a regeneração nacional, em que advogam pela educação obrigatória, pelo crédito agrícola e pela legalização do divórcio(4), Unamuno nega-se a unir-se a eles, alegando que propunham reformas práticas, desconsiderando a necessidade de transformar a mentalidade do povo. Pouco tempo depois, influenciados por Unamuno, Baroja afirmaria que nada se conseguiria sem um novo ideal, e Azorín defenderia a primazia das mudanças individuais sobre as transformações políticas(5).

Unido pelo ideal comum da regeneração da Espanha a partir da descoberta de sua “verdadeira identidade”, surge então o primeiro grupo intelectual ativo e influente culturalmente nos rumos do país, “a primeira geração espanhola que teve uma consciência clara de seu papel diretivo na vanguarda política e social(6): a “geração de 98”, assim batizada por Azorín em 1913, tomando como base o ano da perda de Cuba ainda que, como se viu acima, algumas de suas idéias essenciais remontem a um período anterior.

De acordo com as concepções de Unamuno e Ganivet, a busca pela identidade espanhola deveria fundamentar-se no estabelecimento de “um núcleo central e imperecedouro da tradição nacional, uma base firme que permitisse examinar o passado e fazer recomendações face ao futuro: umnúcleo castiço’, ‘uma força dominante e central’”(7). Para isso, os escritores da geração de 98 buscaram “a continuidade nacional” (frase de Baroja) na paisagem física (deve-se lembrar a forte influência das concepções deterministas na época), na arte (com particular destaque para o Don Quijote, cujo terceiro centenário se comemorou em 1905) e na existência anônima e humilde do povo à margem da história oficial: “O que não se historiava, nem se romanceava, nem se cantava na poesia, é o que a geração de 98 quer historiar, romancear e cantar(8).

O primeiro desses imperativos, a necessidade de conhecer a terra espanhola, foi uma vertente muito fecunda na obra desses escritores, que, através do conhecimento adquirido nas várias excursões (solitárias ou em grupo) feitas pelo território nacional, transformaram radicalmente o tratamento da paisagem na literatura espanhola: esta deixou de ser simples cenário decorativo para tornar-se elemento revelador e simbólico. Livros fundamentais do grupo, como Camino de perfección (Baroja, 1902), La ruta de Don Quijote (Azorín, 1905) e Campos de Castilla (Machado, 1912), estão centrados numa descrição que é ao mesmo tempo interpretação da paisagem nacional.

Deve-se ressaltar, assim, que a meta de uma observação objetiva visando a um melhor conhecimento da realidade do país não evitou que os elementos concretos fossem muitas vezes ofuscados ou distorcidos pelas concepções teóricas dos escritores. Como ressaltou Moreno Hernández, Castela, a paisagem por excelência da geração de 98,  “é tanto um espaço geográfico segundo as coordenadas deterministas, como um lugar retórico, uma reserva de fragmentos e estereótipos transferíveis de um discurso, ou gênero, a outro, e de um autor a outro(9).

Como centro físico e espiritual das preocupações do grupo, a região de Castela surgia como símbolo da autenticidade espanhola anterior aos reis católicos: “Se todos os escritores de 98 cantam literariamente a Castela, ademais de cantar sua terra natal; se todos encontram em sua dramática aspereza certa delicadeza última e quintessenciada, e olham-na com íntima e fina nostalgia, por trás de seu sentimento opera o mito histórico de uma Castela espanholamente pura em sua origem remota(10).

Essa mesma idéia de “pureza medieval” levará a uma alteração no cânone literário, com uma revalorização dos “escritores primitivos”; assim, “à tradição de Calderón oporão a tradição de Berceo e de Jorge Manrique; à épica moderna, o Romanceiro; a Francisco de Rojas, o Arcipreste de Hita”(11). Nas artes plásticas, serão louvados aqueles que souberam se ater à “realidade cotidiana” e à paisagem espanhola: Velásquez e, sobretudo, Goya e El Greco. Don Quixote (mais do que Cervantes) será considerado um símbolo da espiritualidade medieval  resistente ao materialismo moderno.

Se as inquietações próprias dos escritores de sua geração com respeito à Espanha não permaneceram alheias a Antonio Machado durante o primeiro decênio do século (lembremos que ele colaborava nas mesmas revistas em que estes escreviam; que em 1903 freqüentava ocasionalmente a tertúlia de Baroja e Azorín no Nuevo Café de Levante, em Madri(12); que participou, em 1905, junto com esses dois escritores e mais Unamuno e Maeztu, do protesto coletivo contra a concessão do prêmio Nobel a Echegarray), a visão do grupo de 98 se incorporou a seus poemas a partir de 1907, depois de sua mudança para Soria.

Para que se entendam os motivos por que Machado tardou a aderir ao grupo, deve-se levar em conta que, antes do surgimento das obras dos escritores de 98, no período em que ele começou a escrever, era muito grande na Espanha o prestígio de um outro movimento literário, o modernismo. Este vocábulo tem uma acepção particular na história da literatura espanhola, referindo-se ao movimento surgido na América Latina nos anos 80, primeiro em prosa, e depois em verso, sob a liderança do escritor e patriota cubano José Martí (1852-1895) e do poeta nicaragüense Rubén Darío (1867-1916), com raízes no simbolismo e no parnasianismo franceses. “Os modernistas dedicaram-se a um esteticismo consciente, à Arte como supremo absoluto, à Beleza como ideal máximo, e à radical renovação formal da prosa e da poesia como meios para sua consecução. Exaltaram a imaginação criativa e a fantasia como opostas à observação realista e aos cânones aceitos pela literatura burguesa do século XIX.”(13)

O modernismo exerceu forte influência na poesia espanhola do período, e Machado, como Ramón Jiménez e Valle-Inclán, formou-se escritor dentro de sua estética. Se a refundição, em 1907, de seu primeiro livro, Soledades, de 1903, tem por finalidade não apenas retirar os poemas piores, mas também eliminar, sobretudo em seu aspecto formal,  as sobrevivências modernistas (tais como os elementos mais descritivos e os efeitos de sonoridade), elas se manifestam de forma evidente na imagem recorrente dos parques abandonados, na concepção do poeta como vidente e da poesia como operação alquímica, e em alguns traços formais que persistirão inclusive em Campos de Castilla, de 1912(14).

Na verdade, a divisão da literatura espanhola do início do século XX em dois grupos opostos — modernistas, preocupados sobretudo com a renovação formal, e geração de 98, atenta sobretudo ao “problema da Espanha” — não é unanimemente aceita pela crítica atual. Antonio Ramos-Gascón, estudando a colaboração dos escritores para as revistas em que estes iniciaram suas trajetórias literárias, chega à conclusão de quesem necessidade de recorrer às formulações teóricas expostas pelagente nova’ ao final do século XIX, o estudo detido do comportamento literário deste grupo revela-nos a inexistência de um enfrentamento entremodernismo’ e ‘98’. Martínez Ruíz, ‘anarquista literário’, traduz Kropotkin, mas também Maeterlink; Baroja, ao mesmo tempo em que nos descreve ‘a luta pela vida’ na Madri da época, estuda na Revista Nueva a coloração dos sons; Benavente, refinado esteticista, publica em Germinal esquetes dramáticos de clara tendência anarquista; Juan Ramón Jiménez, como assinalamos, alterna os poemas de Alma de violeta [sic] com poesias sociais; Federico Urales, conhecido anarquista, na hora de fazer literatura segue as diretrizes do esteticismo d’annunziano; Manuel Machado, ao regressar de Paris, explica-nos os fundamentos político-sociais da reação antimodernista; Maeztu, ideólogo ‘noventa-e-oitista’, combina o parnasiano e o social em sua poesia de juventude; Dicenta, representante do ‘naturalismo’ no teatro, identifica sua luta com a do esteticismo italiano, etc. Ou seja, nos primeiros anos do movimentonovo’, ambas as correntes não se contrapõem; pelo contrário, inclusive se complementam em certo sentido(15).

Por outro lado, a perspectiva exclusivamente estética atribuída por parte da crítica ao modernismo como forma de diferenciação em relação ao grupo de 98 é válida durante o período inicial do movimento. O “segundo modernismo hispânico tem como marca essencial a descoberta da linguagem e das paisagens cotidianas: “o modernismo havia povoado o mar de tritões e sereias, e os novos poetas viajam em barcos comerciais e desembarcam, não em Citéria, mas em Liverpool; os poemas não são cantos às cosmópolis passadas ou presentes, mas descrições bem mais amargas e reticentes de bairros de classe média; o campo não é a selva nem o deserto, mas o povo dos subúrbios(16).

De qualquer forma, a preocupação ética e social dos escritores de 98 parece ter sido o fator determinante para que Machado se aproximasse do grupo. Analisando seus escritos em prosa (correspondência, ensaios, artigos publicados em revistas) nos primeiros anos do século, notamos uma crescente preocupação com a coletividade espanhola e, concomitantemente, uma forte aspiração por intervir sobre a realidade nacional. O ano de 1903 marca uma transição na concepção machadiana sobre o papel do artista, como se nota no seguinte fragmento de uma carta a Unamuno: “O artista deve amar a vida e odiar a arte, o contrário do que pensei até aqui(17).

Em 1904, numa resenha do livro Arias Tristes, de Juan Ramón Jiménez, em meio a vários elogios ao poeta, Machado, provavelmente aludindo a uma atitude pela qual se vira tentado, pede-lhe que não se evada da vida exteriorpara forjar quimericamente uma vida melhor em que gozar a contemplação de si mesmo”. Embora reconheça que “uma poesia que aspire a comover a todos deve ser muito íntima”, e que “o mais profundo é o mais universal”, ressalva queenquanto nossa alma não despertar para elevar-se, será inútil que nos aprofundemos em nós mesmos(18).

Numa carta escrita a Unamuno no mesmo ano, Machado volta a manifestar seu repúdio ao solipsismo: “todos os nossos esforços devem tender em direção à luz, em direção à consciência. (...) É verdade, deve-se sonhar desperto. Não devemos criar um mundo à parte em que gozar fantástica e egoisticamente da contemplação de nós mesmos; não devemos fugir da vida para forjar-nos uma vida melhor, que seja estéril para os demais(19).

O desejo de uma poesia objetiva, que não fosse mais, como as Soledades e Galerías anteriores, contemplação de si mesmo e projeção de seu espírito sobre a paisagem, encontrou um elemento decisivo em 1907, com sua mudança para Soria: o contato com a paisagem rural de Castela. Num artigo publicado em 1908 (“Nosso patriotismo e a Marcha de Cádiz”), escrito alguns dias depois de sua chegada a Soria(20), Machado torna clara a sua disposição de participar na construção coletiva de uma nova identidade nacional: “Sabemos que a pátria não é uma propriedade herdada de nossos avós, boa apenas para ser defendida na hora da invasão estrangeira. Sabemos que a pátria é algo que se faz constantemente e se conserva através da cultura e do trabalho. O povo que descuida dela ou a abandona perde-a, ainda que saiba morrer. Sabemos que não é pátria o solo que se pisa, mas o que se lavra; que não basta viver sobre ele, mas sim para ele: que ali onde não existe marca do esforço humano não pátria, nem sequer região, apenas uma terra estéril, que tanto pode ser nossa como dos abutres ou das águias que sobre ela voam”(21).

Há, por fim, um outro fator que certamente contribuiu para que Machado se aproximasse dos escritores da geração de 98: o fato de ele ter estudado, dos oito aos quatorze anos, na Institución Libre de Enseñanza. Fundada em 1876, como reação a um decreto do ano anterior que suprimia a liberdade de cátedra, proibindo nas universidades o ensino de temas contrários ao dogma católico ou ataques diretos ou indiretos à monarquia, a Institución era um centro de ensino liberal que se diferenciava por implantar práticas que seus criadores desejariam ver arraigadas no conjunto da sociedade tolerância, laicismo, espírito democrático, empenho científico(22).

Além do claro repúdio à atividade política por parte de seus criadores, para quemera firme a convicção de que toda tentativa de reformar a sociedade ‘a partir de cima’, ou seja, recorrendo às medidas executivas da política, seria por fim inútil, por ter que trabalhar com uma massa popular em grande parte indigente e ignorante(23), a Institución apresentava vários outros pontos de contato com a geração de 98: a crítica à realidade social e ao autoritarismo; a admiração pela natureza, com a promoção de freqüentes excursões por Castela; a valorização do saber popular; a exaltação do trabalho como atividade positiva e fecunda.

Assim, a publicação de Campos de Castilla, em 1912, marca não simplesmente a adesão definitiva de Machado à estética, e à indissociável ética, da geração de 98, mas também a culminação de um longo processo de transformação iniciado na primeira refundição de Soledades, em 1907, e cujas raízes se estendem até sua infância, como aluno da Institución Libre de Enseñanza e membro de uma família de eminentes folcloristas.

Como se adiantou acima, esse processo não suprime completamente o influxo modernista na obra machadiana; tampouco impede o poeta de abrir-se a inspirações alheias à geração, como o sentimento de temporalidade bergsoniano. A simples relação de nomes presentes na seção Elogios torna clara a complexidade da inspiração de Machado: ao lado de poemas dedicados aos “mestres” Unamuno e Azorín, podem-se ler outros escritos para Rubén Darío (também denominado “mestre”), Juan Ramón Jiménez e Valle-Inclán, em que um tom nitidamente modernista, como notou Sesé, “contrasta com a austeridade sombria das composições de inspiração castelhana e é uma brilhante prova da outra face do gênio poético de Machado(24).

Outro elemento que torna mais complexa sua adesão à geração de 98 é a crescente identificação com a terra de Soria: se em A orillas del Duero, de 1910, Machado traz em sua visão da paisagem uma série de imagens que aludem ao passado guerreiro castelhano, com críticas à decadência nacional e referências diretas ao Cid e à época dos “régios galeões” carregados de prata e ouro, nos Campos de Soria, de 1913, a experiência e os sentimentos pessoais predominam sobre a retórica geracional. No primeiro poema, Castela é ainda a “terra triste e nobre”, a mesma de Azorín e Baroja; no segundo, Machado indaga se os campos sorianos não estavam no fundo de sua alma.

Assim, embora Campos de Castilla nasça do propósito de interpretar e compreender a paisagem física e humana de Castela, relacionando-a ao passado nacional e a um hipotético futuro esperançoso, as composições de maior intensidade e beleza são aquelas em que esse propósito é superado pela vivência direta da paisagem, como A un olmo seco, Campos de Soria e A José María Palacio, cujos temas são “a primavera, o tempo, a superação da morte individual, a renovação dos seres(25) temas recorrentes na poesia anterior de Machado, mostrando que mais continuidade do que ruptura na transição de 1907 para 1912.

Nesses poemas, como assinala Sánchez Barbudo, há muito pouco do grupo de 98: a visão da paisagem é carregada de amor, restando pouquíssimo espaço para a crítica. “Ainda que aluda (...) à Soria ‘mística e guerreira’, o que importa agora, o que principalmente expressa (...) é o arraigado amor que sente por essa terra(26). Significativamente, a crítica social ganhará mais força nos poemas escritos depois de sua mudança para a Andaluzia, e se referirá não mais aos camponeses, mas aos señoritos que os exploram.

Não obstante, há várias características que corroboram o papel de Machado como “o representante exclusivamente lírico da Geração de 98”(27): a busca da realidade espanhola não na história oficial, mas nos fatos cotidianos e nas personagens marginais; a interpretação do “problema da Espanha” como uma crise espiritual; o ceticismo radical com relação aos dogmas da ortodoxia católica; a valorização de uma mítica Castela primitiva e medieval, exaltada em seu aspecto severo e guerreiro; a decorrente preferência pela simplicidade e autenticidade medievais de Jorge Manrique e do Romanceiro; a concepção da atividade literária como um método de investigar a situação existencial do homem, mais do que simples expressão da beleza; a crítica violenta à realidade espanhola presente e a esperança no futuro; a observação minuciosa da paisagem castelhana.

A posterior inclinação de Machado para as indagações filosóficas não fez com que se suprimissem essas características: em suas notas sobre poesia, Juan de Mairena condena a artificialidade barroca e lhe contrapõe a inspiração concreta de Manrique e os versos carregados de temporalidade dos romances; o ceticismo com relação a todos os dogmas agudiza-se a ponto de tornar-se um método de investigação; o mandamento de Unamuno segundo o qualpara ensinar ao povo deve-se aprender primeiro com ele” é glosado repetidas vezes por Mairena; a crítica social persiste, alternando com momentos cada vez mais raros de esperanças no futuro.

Assim, a relação entre Machado e a geração de 98 pode ser compreendida de forma cabal se atentarmos para a diversidade e complexidade de sua inspiração, bem como para a unidade e coerência de suas aspirações artísticas e morais ao longo de toda a sua trajetória literária. Uma leitura excessivamente unívoca, que procurasse filiá-lo a um ou outro grupo de escritores, enfatizando semelhanças e ocultando divergências, inevitavelmente falsearia a riqueza e a amplitude da poesia machadiana.

 

A orillas del Duero

Mediaba el mes de julio. Era un hermoso día.
Yo,
solo, por las quiebras del pedregal subía,
buscando los recodos de
sombra, lentamente.
A
trechos me paraba para enjugar mi frente
y
dar algún respiro al pecho jadeante;
o bien, ahincando el paso, el cuerpo hacia adelante
y hacia la
mano diestra vencido y apoyado
en un bastón, a
guisa de pastoril cayado,
trepaba
por los cerros que habitan las rapaces
aves de altura, hollando las hierbas montaraces
de fuerte
olor — romero, tomillo, salvia, espliego —.
Sobre los agrios campos caía un sol de fuego.

Un buitre de anchas alas con majestuoso vuelo
cruzaba solitario el
puro azul del cielo.
Yo divisaba, lejos, un
monte alto y agudo,
y
una redonda loma cual recamado escudo,
y cárdenos alcores
sobre la parda tierra
— harapos esparcidos de un viejo arnés de
guerra —,
las serrezuelas
calvas por donde tuerce el Duero
para formar la corva ballesta de un arquero
en
torno a Soria. — Soria es una barbacana,
hacia Aragón,
que tiene la torre castellana —.
Veía el
horizonte cerrado por colinas
oscuras, coronadas de robles y de encinas;
desnudos peñascales, algún
humilde prado
donde el
merino pace y el toro, arrodillado
sobre la hierba, rumia; las márgenes de río
lucir sus
verdes álamos al claro sol de estío,
y,
silenciosamente, lejanos pasajeros,
¡tan
diminutos! — carros, jinetes y arrieros —,
cruzar el largo puente, y bajo las arcadas
de piedra ensombrecerse las aguas plateadas
del Duero.
               El Duero
cruza el corazón de roble
de Iberia y de Castilla.
                                 ¡
Oh, tierra triste y noble,
la de los
altos llanos y yermos y roquedas,
de
campos sin arados, regatos ni arboledas;
decrépitas ciudades, caminos sin mesones,
y atónitos palurdos sin danzas ni canciones
que aún van, abandonando el mortecino hogar,
como tus largos ríos, Castilla, hacia la mar!

Castilla miserable, ayer dominadora,
envuelta en sus andrajos desprecia cuanto ignora.
¿
Espera, duerme o sueña? ¿La sangre derramada
recuerda, cuando tuvo la fiebre de la
espada?
Todo se mueve, fluye, discurre, corre o gira;
cambian la
mar y el monte y el ojo que los mira.
¿Pasó?
Sobre sus campos aún el fantasma yerra
de un pueblo
que ponía a Dios sobre la guerra

La madre en otro tiempo fecunda en capitanes,
madrastra es hoy
apenas de humildes ganapanes.
Castilla no es aquella tan
generosa un día,
cuando Myo Cid Rodrigo el de
Vivar volvía,
ufano de su nueva fortuna, y su opulencia,
a
regalar a Alfonso los huertos de Valencia;
o
que, tras la aventura que acreditó sus bríos,
pedía la
conquista de los inmensos ríos
indianos a la corte, la madre de soldados,
guerreros y adalides
que han de tornar, cargados
de plata y oro, a España, en regios galeones,
para la presa cuervos, para la lid leones.
Filósofos nutridos de
sopa de convento
contemplan impasibles el amplio
firmamento;
y
si les llega en sueños, como un rumor distante,
clamor de mercaderes de muelles de Levante,
no acudirán siquiera a
preguntar ¿qué pasa?
Y ya la
guerra ha abierto las puertas de su casa.  

Castilla miserable, ayer dominadora,
envuelta en sus harapos desprecia cuanto ignora. 

El sol va declinando. De la ciudad lejana
me llega un armonioso tañido de campana
— ya irán a su rosario las enlutadas viejas —.
De
entre las peñas salen dos lindas comadrejas;
me miran y se alejan, huyendo, y aparecen
de nuevo, ¡tan curiosas!... Los
campos se obscurecen.
Hacia el camino blanco está el mesón abierto
al
campo ensombrecido y al pedregal desierto.


Às margens do Douro

Mediava o mês de julho. Era um bonito dia.
Sozinho, eu pelas fendas do pedregal subia,
procurando os
recantos de sombra, lentamente.
Vez por outra parava para enxugar-me a frente
e dar algum alento a meu peito ofegante;
ou apertando o passo, o corpo para diante
e sobre a mão direita vencido e apoiado
em um bastão, à guisa de pastoril cajado,
trepava pelos cerros que habitam as rapaces
aves do alto, pisando as ervas montarazes
de forte olor tomilho, lavanda, rosmaninho.
Sobre os agrestes campos brilhava o sol a pino.

Com majestoso vôo, um abutre de asas largas
cruzava solitário o puro azul da tarde.
Eu divisava, longe, um monte alto e agudo,
e uma redonda crista como adornado escudo,
e colinas violáceas sobre a apagada terra
farrapos esparzidos de um velho arnês de guerra —,
as serrazinhas calvas onde o Douro se esgueira
para formar a curva balestra de um arqueiro
em torno a Soria. — Soria é uma barbacã,
frente a Aragão, que tem a torre castelhana.
Eu via o horizonte cercado por outeiros
obscuros, coroados de robles e azinheiros;
as penhasqueiras nuas, algum humilde prado
onde o merino pasce e o touro, ajoelhado
sobre a relva, rumina; as ribeiras do rio
luzir seus verdes álamos ao claro sol de estio,
e, silenciosamente, distantes passageiros,
tão diminutos! — carros, peões e arrieiros
cruzar a larga ponte, e ali, sob as arcadas
de pedra, escurecer-se as águas prateadas
do Douro.
               O Douro
cruza o coração de roble
da Ibéria e de Castela.
                                  Ó, terra triste e nobre,
a dos grandes planaltos, dos ermos e rochedos,
de campos sem arados, regatos e arvoredos;
decrépitas cidades, caminhos sem pousadas
e atônitos grosseiros sem danças nem baladas
que vão, abandonando o moribundo lar,
como teus longos rios, Castela, para o mar!

Castela miserável, ontem dominadora,
envolta em seus andrajos despreza quanto ignora.
Espera, dorme ou sonha? O sangue derramado
recorda, quando a febre da espada era seu fado?
Tudo se move, flui, discorre, corre ou gira;
mudam o mar e o monte, e o olho que os remira.
Passou? Sobre seus campos o fantasma ainda erra
de um povo que dispunha Deus acima da guerra.

A mãe num outro tempo fecunda em capitães
madrasta é hoje apenas de humildes ganha-pães.
Castela não é aquela tão generosa um dia
quando Mio Cid Rodrigo, el de Vivar, volvia,
ufano de sua nova fortuna e sua opulência,
a presentear a Alfonso os jardins de Valência;
ou que, após a aventura que deu fama a seus brios,
requestava a conquista dos desmedidos rios
indianos à corte, a mãe de mil soldados,
guerreiros e seus chefes, que virão, carregados
de prata e de ouro, à Espanha, em régios galeões,
para a rapina, corvos, para a luta, leões.
Filósofos nutridos de sopa de convento
contemplam impassíveis o vasto firmamento;
e se lhes chega em sonho, como um rumor distante,
clamor de mercadores de molhes do Levante,
sequer acorrerão a perguntar: o que há?
E
a guerra abriu as portas do seu lar.

Castela miserável, ontem dominadora,
envolta em seus farrapos despreza quanto ignora.

O sol vai declinando. Da cidade distante
chega-me a harmonia de um sino ressoante
irão a seus rosários as enlutadas velhas.
Dentre os penhascos saem duas doninhas belas;
espiam-me e se afastam, fugindo, e aparecem
de novo, tão curiosas!... Os campos se escurecem.
Junto ao caminho branco está o albergue aberto
ao campo assombreado e ao pedregal deserto.

 

Campos de Soria

Es la tierra de Soria árida y fría.
Por las colinas y las sierras calvas,
verdes pradillos, cerros cenicientos,
la
primavera pasa
dejando
entre las hierbas olorosas
sus diminutas margaritas blancas. 

La tierra no revive, el campo sueña.
Al
empezar abril está nevada
la espalda del Moncayo;
el caminante lleva en su bufanda
envueltos cuello y
boca, y los pastores
pasan cubiertos con sus luengas
capas.

IV 

¡Las figuras del campo sobre el cielo!
Dos
lentos bueyes aran
en un alcor, cuando el otoño empieza,
y
entre las negras testas doblegadas
bajo el pesado yugo,
pende un
cesto de juncos y retama,
que es la cuna de un niño;
y tras la yunta
marcha
un hombre
que se inclina hacia la tierra,
y
una mujer que en las abiertas zanjas
arroja la semilla.
Bajo
una nube de carmín y llama,
en el oro
fluido y verdinoso
del poniente, las
sombras se agigantan.

VIII 

He vuelto a ver los álamos dorados,
álamos del camino en la ribera
del Duero,
entre San Polo y San Saturio,
tras las murallas viejas
de Soria — barbacana
hacia Aragón, en castellana tierra. 

Estos chopos del río, que acompañan
con el
sonido de sus hojas secas
el son del agua, cuando el viento sopla,
tienen en sus cortezas
grabadas
iniciales que son nombres
de enamorados,
cifras que son fechas.
¡Álamos del
amor que ayer tuvisteis
de ruiseñores vuestras
ramas llenas;
álamos
que seréis mañana liras
del viento
perfumado en primavera;
álamos del
amor cerca del agua
que corre y pasa y sueña,
álamos de las márgenes del Duero,
conmigo vais,
mi corazón os lleva!

IX 

¡Oh, sí, conmigo vais, campos de Soria,
tardes tranquilas, montes de violeta,
alamedas del río, verde sueño
del suelo
gris y de la parda tierra,
agria melancolía
de la ciudad
decrépita.
Me habéis llegado al alma,
¿o
acaso estabais en el fondo de ella?
¡
Gentes del alto llano numantino
que a Dios guardáis como cristianas viejas,
que el sol de España os llene
de alegría, de
luz y de riqueza!


Campos de Soria

I

É a terra soriana árida e fria.
Pelas
colinas, pelas serras calvas,
verdes campinas, outeiros cinzentos,
a primavera passa
deixando em meio às ervas olorosas
suas pequenas margaridas alvas

A terra não revive, o campo sonha.
Quando começa abril, está nevada
a espádua do Moncaio;
o caminhante leva em sua manta
pescoço e boca envoltos, e os pastores
passam cobertos com suas longas capas.

IV 

As figuras do campo sobre o céu!
Dois bois morosos aram
numa
colina, quando o outono chega,
e entre as negras cabeças dominadas
sob o pesado jugo,
pende um cesto de juncos e retama,
que é o berço de um bebê;
e atrás da junta avança
um homem que se inclina para a terra,
e uma mulher que nas abertas valas
atira uma semente.
Sob uma nuvem de carmim e chama,
no ouro fluido e esverdeado
do pôr-do-sol, as sombras se agigantam.

VIII 

Voltei a ver os álamos dourados,
álamos do caminho na ribeira
do Douro, entre São Polo e São Satúrio,
atrás dos muros velhos
de Soria — barbacã
frente a Aragão, em castelhana terra.
Estes choupos à margem, que acompanham
com o ruído de suas folhas secas
o som das águas, quando o vento sopra,
que nas cascas conservam
iniciais gravadas que são nomes
de casais, cifras que são dias, meses.
Ó álamos do
amor que ontem tivestes
de rouxinóis os vossos galhos cheios;
álamos que amanhã sereis as liras
do vento cálido da primavera;
ó álamos do
amor à beira d’água
que corre e passa e anseia,
ó álamos das
margens do rio Douro,
comigo ireis, meu coração vos leva!

IX 

Oh, sim, comigo ireis, campos de Soria,
tardes tranqüilas, montes de violeta,
alamedas do Douro, verde sonho
do solo cinza e desta parda terra,
acre melancolia
da cidade decrépita,
chegastes à minha alma,
ou estáveis quiçá no fundo dela?
Gentes da alta planura numantina
que a Deus guardais como devotas velhas,
que o sol da Espanha cubra-vos
de alegria, de luz e de riqueza!


Comentários

A orillas del Duero

O título do poema é recorrente na obra de Machado: surgira no livro anterior, e reaparecerá mais adiante, neste mesmo Campos de Castilla, ligeiramente modificado (Orillas del Duero), e em Nuevas canciones (como Canciones del alto Duero). Publicado com algumas variantes em 1910, na revista La lectura, este poema levava o título que mais tarde se aplicou ao livro: Campos de Castilla.

A imagem de Soria como barbacã, que reaparece posteriormente num dos Campos de Soria, é assim explicada por Oreste Macrì: “Soria aparece ilhada, estendida junto aos Montes Ibéricos e à serra do Moncaio, que separam Aragão de Castela a Velha, que tem ‘a torre castelhana’ guardada pela barbacã soriana”(28). Ademais, a imagem do Douro como balestra corresponde a uma característica da poesia machadiana, “a forma dos rios que em seu transcurso topográfico adotam freqüentemente a forma de um instrumento bélico, o que, se bem reproduz a linha sinuosa do objeto, revela que na poesia de Machado sempre está presente não o que se contempla, mas também o que se evoca, neste caso, o passado da Espanha em sua perspectiva histórica e guerreira(29) característica corroborada ainda pela imagem dos “farrapos esparzidos de um velho arnês de guerra”.

Como se sabe, no Cantar de Mío Cid, Rodrigo Díaz, el de Vivar, manda cem cavalos a don Afonso VI, rei de Leão e Castela, advindos de sua conquista de Valência em junho de 1093; outra parte do saque foi enviado ao rei por ter permitido que dona Jimena (esposa do Cid) e suas filhas fossem a Valência; de qualquer forma, o dom dos jardins não existe no Cantar(30).

O roble e o azinheiro são árvores do gênero dos carvalhos (Quercus), muito comuns na região de Castela, e também freqüentes na poesia de Machado.

Indianos equivale, naturalmente, a “americanos”.


Campos de Soria

A imagem dos pastores cobertos por suas longas capas, que fecha o primeiro poema, é típica da região castelhana: “Nesse clima extremado por ambos os extremos, onde tão violentamente passa-se do calor ao frio e da seca ao aguaceiro, o homem inventou a capa, que o isola do ambiente e cria uma atmosfera pessoal, regularmente constante em meio às oscilações exteriores, defesa contra o frio e o calor ao mesmo tempo(31)

O Moncaio é um monte situado ao norte de Soria, na fronteira entre Aragão e Castela a Velha. 

São Polo e São Satúrio são ermidas situadas às margens do Douro, junto a Soria(32). 

Numancia, antiga cidade habitada pelos arévacos, foi destruída pelo exército romano em 133 a.C., após um assédio de nove meses. Os numantinos preferiram morrer a entregar a cidade, que depois de vencida foi incendiada. Suas ruínas situam-se a sete quilômetros de Soria(33).


Notas
 

(*) Marco Catalão é mestre pelo Iel-Unicamp. 

(1) Inman Fox, La invención de España, p. 56. 

(2) Ibidem, p. 58. 

(3) Donald Shaw, La generación del 98, p. 21. 

(4) Ibidem, p. 40. 

(5) Ibidem, p. 42. Ver à p. 23: “Os problemas da Espanha após a derrota em 1898 concretizavam-se em pobreza, subdesenvolvimento, injustiça social, separatismo regional, educação inadequada, falta de investimentos e urgente necessidade de modificar a estrutura do poder. Apesar disso, frente a todos esses problemas, a Geração de 98 concedia prioridade à reconstrução espiritual!”  

(6) Inman Fox, “El 98 y el origen de los ‘intelectuales’”, in José-Carlos Mainer, Modernismo y 98, p. 35. Embora não haja consenso da crítica com relação à inclusão, no grupo, de escritores como Ramón del Valle-Inclán (1866-1936) e Jacinto Benavente (1866-1945), e de outros de menor importância, é geral o reconhecimento de Unamuno, Azorín, Baroja, Maeztu e Antonio Machado como as figuras centrais da chamada geração de 98. 

(7) Herbert Ramsden, “El problema de España”, in José-Carlos Mainer, Modernismo y 98, p. 21.

(8) Azorín, “La generación del 98”, apud Ramsden, op. cit., p. 22.

(9) “Castilla, lugar común del 98”. 

(10) Pedro Laín Entralgo, La generación del 98, p. 232. 

(11) Ibidem, p. 226. Lembre-se que o fundador da medievalística espanhola, Ramón Menéndez Pidal, costuma ter seu nome associado à geração. 

(12) Donald Shaw, op. cit., p. 35. 

(13) Ibidem.

(14) As principais análises da refundição do primeiro livro de Machado foram feitas por Dámaso Alonso (“Fanales de Antonio Machado”) e Geoffrey Ribbans (“Introdución” a  Soledades. Galerías. Otros Poemas). Sánchez Barbudo (Los poemas de Antonio Machado) apresenta uma catalogação quase exaustiva da permanência de marcas formais modernistas ao longo de toda a obra de Machado; Macrì, nas notas aos poemas em Poesía y prosa, chama atenção para os versos que revelam a influência de Rubén Darío.

(15)Naturalismo, modernismo, arte social”, in José-Carlos Mainer, Modernismo y 98, p. 86.

(16) Octavio Paz, “Romanticismo, modernismo, postmodernismo”, in José-Carlos Mainer, op. cit., p. 68.

(17) Apud Donald Shaw, op. cit., p. 191.

(18) Poesía y prosa, v. 3, p. 1470.

(19) Trecho reproduzido em Almas de jóvenes, p. 23.

(20) Ver Bernard Sesé, Antonio Machado. El hombre. El poeta. El pensador, p. 165.

(21) Poesía y prosa, v. 3, pp. 1484-1485.

(22) Inman Fox, op. cit., pp. 31-32.

(23) Juan López Morillas, “Las consecuencias de un desastre”, in José-Carlos Mainer, Modernismo y 98, p. 14.

(24) Bernard Sesé, op. cit., p. 397.

(25) Cláudio Guillén, “Processo y orden inminente en Campos de Castilla”, in Teorías de la historia literaria.

(26) Los poemas de Antonio Machado, p. 204.

(27) Ángel Valbuena Prat, apud Bernard Sesé, op. cit., p. 365.

(28) Macrì, Poesía y prosa, p. 879.

(29) Rodríguez Santibáñez, Marta, El intimismo en Antonio Machado, p. 65.

(30) Macrì, ibidem.

(31) Miguel de Unamuno, En torno al casticismo, in Ensayos, v. 1, p. 60.

(32) Cf. Vicente Tusón, Poesías escogidas, p. 103.

(33) Nuevo Espasa Ilustrado.


Bibliografia

Alonso, Dámaso: “Fanales de Antonio Machado”, in Cuatro poetas españoles, Madri, Gredos, 1976. 

Fox, Inman: La invención de España, Madri, Cátedra, 1998. 

Guillén, Cláudio: Teorías de la historia literaria, Madri, Espasa Calpe, 1989. 

Laín Entralgo, Pedro: La generación del noventa y ocho, Madri, Espasa-Calpe, 1956. 

Machado, Antonio: Poesía y prosa (4 vols.), Madri, Espasa Calpe/Fundación Antonio Machado, 1989. Edição crítica de Oreste Macrì; Soledades. Galerías. Otros Poemas, Madri, Catedra, 1983. Introdução de Geoffrey Ribbans.

Mainer, José-Carlos: Modernismo y 98 (volume VI da História y crítica de la literatura española), Barcelona, Crítica, 1979.

Nuevo Espasa Ilustrado, Madri, Espasa-Calpe, 1999. Rodríguez Santibáñez, Marta, El intimismo en Antonio Machado, Madri, Visor, 1998 (“Biblioteca filológica hispana”).

Sánchez Barbudo, Antonio: Los poemas de Antonio Machado, Barcelona, Lumen,1967; Estudios sobre Unamuno y Machado, Madri, Guadarrama, 1959.

Sesé, Bernard: Antonio Machado (1875-1939). El hombre. El poeta. El pensador, Madri, Ed. Gredos, 2 vols. (“Biblioteca Románica Hispánica”, 299).

Shaw, Donald: La generación del 98, Madri, Cátedra, 1997.

Tusón, Vicente: introdução e notas a Antonio Machado, Poesías escogidas, Madri, Castalia, 1986.

Unamuno, Miguel de: Almas de jóvenes, Buenos Aires, Espasa Calpe, 1944; Ensaios (2 vols.), Madri, Aguilar, 1958. Prólogo e notas de Bernardo G. de Candamo.

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